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SUMIDOURO

A ESTRADA DE FERRO LEOPOLDINA

O crescimento da produção cafeeira de Sumidouro suscita a amelhoração e a agilização do escoamento. Por volta da década de cinquenta do século XIX aparecem registros de ações empreendidas no sentido de construir um ramal da estrada de ferro de Porto Velho do Cunha em Minas Gerais até a vila de Sumidouro.


Estação da Leopoldina Raiways Co. Ltda em Sumidouro, 1922.

Nos arquivos do Pró-Memória de Nova Friburgo encontra-se uma síntese do resumo histórico de The Leopoldina Railway Co. Ltda referente ao dito ramal (páginas 107,108, 115 e 116). Nêle pode-se encontrar uma menção ao Decreto n° 1930 de 26 de abril de 1857 que estabelecia condições para a implantação do ramal.

A estrada de ferro só chegará na vila de Sumidouro em outubro de 1889 após uma lenta construção à partir de Porto Velho do Cunha (MG). Quando isto ocorreu já fazia um ano que a escravidão tinha sido abolida no Brasil e no mês seguinte a República seria proclamada.

O ramal inicial possuia as estações intermediárias de Mello barreto, Bacelar (Carmo), Barra de São Francisco, e Bella Joana. Após 1889 o ramal estendeu-se em direção à Nova Friburgo com estações em Barão de Aquino, Murinelly, Dona Mariana e Rio Grandina até encontrar-se com o ramal de Cantagalo na estação de cargas em Conselheiro Paulino (Nova Friburgo).

Profundas transformações sociais, políticas e econômicas vão ocorrer em Sumidouro nos anos que precedem e sucedem a chegada dos trilhos da Leopoldina. Em primeiro lugar podemos citar a abolição da escravidão que permete o êxodo da mão de obra até então gratuita (em 1872 de uma população total de 4.015 pessoas da freguesia, contabilizava-se um total de 2.167 escravos). Em segundo lugar a proclamação da República e a reestruturação administrativa do Estado do Rio com a criação do município de Sumidouro após desmembramento do Carmo (em 1882, durante alguns meses, Sumidouro perderá sua autonomia administrativa por razões provavelmente ligadas à mudança de orientação política estadual após a renúncia do então Governador Francisco Portella). Em terceiro lugar o país entra numa fase de crise política e financeira (Encilhamento), epidemias como a Febre Amarela que destroem milhares de vidas (e braços produtivos). Finalmente, a dinâmica socio-econômica causada pela agilização dos trnaportes que representa a Estrada de Ferro : dinamização comercial, introdução de novas atividades econômicas em Sumidouro, chegada de novos comerciantes e de novas mercadorias, de novas idéias, de novas máquinas para modernizar a produção cafeeira etc.. O telégrafo que o " terceiro trilho " desta estrada permite a veiculação instantânea de notícias e rumores. Em resumo, a sociedade sumidourense sai do " estado sólido " caracterizado pela vida pacata e provinciana para passar ao " estado líquido " provocado pela circulação mais rápida de bens, de homens e de idéias.

Esta nova dinâmica traduz-se também em protestos e manifestações de descontentamento. Na edição do dia 13 de Agosto de 1892 do Jornal O Friburguense lê-se no editorial as reclamações ouvidas sobre o ramal de Sumidouro da Leopoldina Railway Co. Ltda. :

" ...informaram-nos que os produtos das lavouras, como o café, que é o principal dos municípios do Carmo, Sumidouro e parte de Nova Friburgo, são conduzidos por esta estrada com grande demora, ficando completamente cheias as estações de Bella Joana, Sumidouro, Barão de Aquino, Murinelly, Dona Mariana e Conselheiro Paulino. Sendo alguns destes gêneros expedidos a custo de muitas rogativas dos remetentes, que não poucas vezes testemunham a depreciação dos seus gêneros. Os fretes das bagagens são elevados excessivamente e as taxas que pagam os transeuntes são altamente fabulosas, comparando-se com as das outras vias similares.

" Quanto tempo gasta o expresso de Friburgo ao Porto Novo, é sem receio de errar-se, o mesmo que se gastaria de Paris à China. [...] Omitimos nesta exposição os contínuos descarrilhamentos e as paradas constantes por falta de água e por não ter carvão suficiente. [...] Há, não sabemos ao certo o tempo, quatro anos mais ou menos, que este ramal está em movimento e servindo muito mal com uma tabela [...] organizada provisoriamente à feição dos interêsses da Companhia, e este estado provisório tem continuado e continuará porque é lucrativo para a estrada e prejudica unicamente o público, pois que a isso não há quem ponha diques (NDR : obstáculos, estorvos, barreiras). [...] ".

PARA SABER MAIS

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A BIBLIOGRAFIA

BIOGRAFIAS

DESTRUIÇÃO DO PASSADO

No Brasil em geral, e em Sumidouro em particular, a conservação do patrimônio histórico não desperta o interêsse dos habitantes. Várias construções já foram destruidas por ignorância ou descaso e muitas estão em vias de destruição pelos mesmos motivos.

Um exemplo típico é a Capela do Nosso Senhor dos Passos que por ignorância foi "restaurada" destruindo o seu aspecto inicial. O pior neste tipo de "restauração" é que êle recolhe elogios de uma parte da população que considera o aspecto "restaurado" como "charmoso", "romântico", etc.

No caso da Capela do Nosso Senhor dos Passos (como da Igreja Matriz) o reboco serve de proteção contra a erosão pluvial e a lixiviação da argamassa que possui uma composição diferente da usada hoje em dia, pois ela é feita sem cimento e é especifica para paredes feitas com pedras de alvenaria irregulares. Esta técnica foi desenvolvida há cerca de mil anos atrás e, na Europa, muita igrejas construidas no século X ainda estão de pé porque o reboco nunca foi retirado. Pela primeira vez em 124 anos as paredes da Capelinha estarão desprotegidas diante das chuvas de verão e do clima "tropical chuvoso" de Sumidouro.

Seria bom se as pessoas que aprovam este tipo de "restauração" se perguntem por que a cidade de Sumidouro foi construida onde está, ou por que havia um reboco caiado de branco na Capelinha, ou por que a sua porta era pintada de verde. Na resposta a estas questões elas descobririam o valor do que nossos antepassados nos legaram.

O município vizinho do Carmo (ao qual Sumidouro estava ligado há cento e dez anos atrás) tem 35 anos de avanço comparado a Sumidouro pois a Igreja de Nossa Senhora do Carmo foi tombada no 23 de Janeiro de 1964.

Aspecto atual da Capela do Nosso Senhor dos Passos após a "restauração" (foto: Celso Machado). Para ver o aspecto original da Capela clique sobre a foto acima.